quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Operário em Construção

Operário em construção

Vinícius de Moraes

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era Ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

Cândido Portinari, Operário

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer o tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, Cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que a sua marmita
Era o prato do patrão
Que a sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que o seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que a sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
-"Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
E o operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca da sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! -disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem pelo chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

URCA - História (2º sem) Antropologia Geral


Estudantes do 2º sem do curso de História da Urca da disciplina Antropologia Geral na Praça do Bicentenário por acasião do Evento de Economia Solidária organizado pela CÁRITAS.

sexta-feira, 11 de março de 2011

“Comportamento ético” (Elizete Passos)

Questões para estudo do texto: Comportamento ético

PASSOS, Elizete. Ética e psicologia: teoria e prática. São Paulo: Vetor, 2007 (p. 26-33)

01. Em todos os tempos existiu um horizonte ético. O ideal ético não tem variado; ele vem se repetindo como o direito do ser humano viver de forma digna, humana, justa e feliz. O que muda é a maneira hegemônica de cada época interpretar quais são as prioridades, condições e requisitos para isso. Nesse sentido, explique como era entendida a ética para os GREGOS, na IDADE MÉDIA, na MODERNIDADE e na CONTEMPORANEIDADE.

02. Explique as diferenças entre os fundamentos de duas grandes orientações filosóficas sobre ética. A TRADICIONAL, fundada numa Lei Natural ou Positiva e a ATUAL, fundada na DIALÉTICA

03. A postura do sujeito moral, não se dá fora de condicionamentos sociais, econômicos, políticos e ideológicos. Como fica, nesse contexto, a questão da Liberdade, requisito para a ética?

04. O que é um código deontológico? Em que ele se diferencia da ética?

05. Em nossa cultura, as Igrejas têm, historicamente, poder de definir, em grande parte, o comportamento moral das pessoas, que passa a ser confundido com uma ética universal devido o seu caráter dogmático. A ética tradicional religiosa impõe uma moral que, muitas vezes, se chocam com os princípios éticos da contemporaneidade. Cite pelo menos dois exemplos e justifique.

06. O que significa entender a ética como “filosofia moral”?

07. Porque podemos afirma que a ética é, ao mesmo tempo, uma experiência individual e coletiva?

08. Qual a diferença entre sanção moral e sanção legal?

domingo, 6 de março de 2011

Como você se posicionaria em cada uma dessas situações?


DILEMA 1:

“Uma pessoa querida, com uma doença terminal, está viva apenas porque seu corpo está ligado a máquinas. Suas dores são intoleráveis. lnconsciente, geme no sofrimento. Não seria melhor que descansasse em paz? Não seria preferível deixá-la morrer? Podemos desligar os aparelhos? Ou não temos o direito de fazê-lo? Que fazer? Qual a ação correta?” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filsofia. 13ª ed., São Paulo: Ática, 2004 (p. 305-306)


DILEMA 2:

“Uma jovem descobre que está grávida. Sente que seu corpo e seu espírito ainda não estão preparados para a gravidez. Sabe que seu parceiro, mesmo que deseje apoiá-Ia, é tão jovem e despreparado quanto ela e que ambos não terão como responsabilizar-se plenamente pela gestação, pelo parto e pela criação de um filho. Ambos estão desorientados. Não sabem se poderão contar com o auxílio de suas famílias (se as tiverem).

Se ela for apenas estudante, terá de deixar a escola para trabalhar, a fim de pagar o parto e arcar com as despesas da criança. Sua vida e seu futuro mudarão para sempre. Se trabalha, sabe que perderá o emprego, porque vive numa sociedade na qual os patrões discriminam as mulheres grávidas, sobretudo as solteiras. Receia não contar com a ajuda e o apoio dos amigos. Ao mesmo tempo, porém, deseja a criança, sonha com ela, mas teme dar-lhe uma vida de miséria e ser injusta com quem não pediu para nascer. Pode fazer um aborto? Deve fazê-lo?” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filsofia. 13ª ed., São Paulo: Ática, 2004 (p. 305-306)


DILEMA 3:

“Um pai de família desempregado, com vários filhos pequenos e a esposa doente, recebe uma oferta de emprego que exige que seja desonesto e cometa irregularidades que beneficiem seu patrão. Sabe que o trabalho lhe permitirá sustentar os filhos e pagar o tratamento da esposa. Pode aceitar o emprego, mesmo sabendo o que será exigido dele? Ou deve recusá-lo e ver os filhos com fome e a mulher morrendo?” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filsofia. 13ª ed., São Paulo: Ática, 2004 (p. 305-306)


DILEMA 4:

“Um rapaz namora, há tempos, uma moça de quem gosta muito e é por ela correspondido. Conhece uma outra. Apaixona-se perdidamente e é correspondido. Ama duas mulheres e ambas o amam. Pode ter dois amores simultâneos, ou estará traindo a ambos e a si mesmo? Deve magoar uma delas e a si mesmo, rompendo com uma para ficar com a outra? O amor exige uma única pessoa amada ou pode ser múltiplo? Que sentirão as duas mulheres se ele lhes contar o que se passa? Ou deverá mentir para ambas? Que fazer? Se, enquanto está atormentado pela indecisão, um conhecido o vê ora com uma das mulheres, ora com a outra e, conhecendo uma delas, deverá contar a ela o que viu? Em nome da amizade, deve falar ou calar?” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filsofia. 13ª ed., São Paulo: Ática, 2004 (p. 305-306)


DILEMA 5:

“Uma mulher vê um furto. Vê uma criança maltrapilha e esfomeada pegar frutas e pães numa mercearia. Sabe que o dono da mercearia está passando por muitas dificuldades e que o furto fará diferença para ele. Mas também vê a miséria e a fome da criança. Deve denunciá-Ia, julgando que com isso a criança não se tornará um adulto ladrão e o proprietário da mercearia não terá prejuízo de fato? Ou deverá silenciar, pois a criança corre o risco de receber punição excessiva, ser levada pela polícia, ser jogada novamente às ruas e, agora, revoltada, passar do furto ao homicídio? Que fazer?” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filsofia. 13ª ed., São Paulo: Ática, 2004 (p. 305-306)


DILEMA 6:

“Uma pessoa vê, nas portas de uma escola, um jovem vendendo droga a um outro. Essa pessoa sabe que tanto o jovem traficante como o jovem consumidor estão realizando ações a que foram levados pela atividade do crime organizado, contra o qual as forças policiais parecem impotentes. Deve denunciar o jovem traficante, mesmo sabendo que com isso não atingirá as poderosas forças que sustentam o tráfico, mas apenas um fraco anel de uma corrente criminosa que permanecerá impune e que poderá voltar-se contra quem fez a denúncia? Ou deve falar com as autoridades escolares para que tomem alguma providência com relação ao jovem consumidor? Mas de que adiantará voltar-se contra o consumo, se nada pode fazer contra a venda propriamente dita? No entanto, como poderá sentir-se em paz sabendo que há um jovem que talvez possa ser salvo de um vício que irá destruí-lo? Que fazer?”

(CHAUÍ, Marilena. Convite à Filsofia. 13ª ed., São Paulo: Ática, 2004 (p. 305-306)


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"Ética" (Vazquez) Cap. I - Questões para estudo do texto

Cap. I - Objeto da Ética

01. Cite exemplos de dilemas éticos.

02. Defina: norma, moral e juízo .

03. Explique “moral vivida” e “moral reflexa”.

04. Defina Ética e Moral e explique a relação entre ambas.

05. Explique o caráter científico da Ética.

06. Explique como a Ética pode interferir na Moral sem ser prescritiva.

07. Historicamente a Ética está ligada à Filosofia. Existem, no entanto, uma visão tradicional de ética e uma científica. Explicite este debate.

08. Estabeleça uma relação entre Ética e Psicologia e explique o perigo do “psicologismo ético”.

09. Estabeleça uma relação entre Ética e Sociologia e explique o perigo do “sociologismo ético”.

10. Explique a contribuição da antropologia contra a pretensão dos teóricos da moral?

11. Estabeleça uma relação entre Ética e Economia Política nos seus dois aspectos fundamentais.

12. Cite um exemplo de questão ética ou moral com a qual o psicólogo costuma lidar. Cite a situação e esclareça se se trata de um problema ético ou moral, explicando porque.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"Ilha das Flores"


Vejam postagens sobre o curta "Ilha das Flores" no arquivo do blog 2010 (Fev)